sexta-feira, 9 de maio de 2008

Senso Comum

As coisas da morte e da vida são francamente mais importantes do que ressentimentos mesquinhos.
Os últimos, mesmo que justos, não deixam de ser pequenas pendências de gestão corrente, perante a intensidade e inexorabilidade dos primeiros.
Há que dizê-lo com frontalidade :

Quem não se sente não é filho de boa gente.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Kamumula de Makelele

Kamumula de Makelele nasceu nos subúrbios da capital da Tuga. Seu pai, Omnipresente, em noite de tristeza, escolheu-lhe o nome heterodoxo. Queria decidir-se por Camomila, mas em noite de tristeza, com a cabeça cheia de nada, foi Kamumula quem vingou.

Kamumula cresceu na condição da gente que vive encravada entre as memórias da terra. Da África, das infâncias felizes e livres, dos pés descalços, das festas nos quintais, dos sembas dos cotas, das pescarias, das cobras cuspideiras nos milheirais, das pretas velhas que vestem quimonos, fumam entretidas, cigarros enrolados na boca e curam maleitas com ervas. Da África das trovoadas e do pôr do sol...

Imagina desde a mais tenra infância, como serão a cidade de Luanda e da Praia, o Mussulo, as Quedas do Duque de Bragança, o sukupira, a terra escura do Fogo, a visão inspiradora da aridez e o “sussurrar envolvente do vento” do Sal. Estas memórias, que não são suas, exercem sobre ela enorme fascínio. São as memórias dos seus doces contadores de estórias.

É Tuga?
Não. Kamumula não se sente Tuga. Está encravada entre as memórias de África e a vivência na Tuga. Kamumula não é Tuga. É do Mundo. De que Mundo? De muitos... alguns claros, definidos e transparentes, outros têm a dureza das sombras fugídias, que ela persegue, mas nem sempre alcança.

É que
"Ela que descobriu o mundo
(...) sabe vê-lo do ângulo mais bonito"

(Gerânio, por Nando Reis, Marisa Monte e Jenifer Gomes in Infinito Particular.)

Reciclar Sentimentos

Se na natureza nada se perde, tudo se transforma, também assim é na vida.
A dor, a mágoa e a raiva poder ser transformadas em atitude positiva.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Pagar para ver...

Ou não...
Nestas coisas dos afectos, há que pagar para ver.
Estratégias de engate à parte, mas mesmo que custe, há que ser chama.
Esta vivência que parece de espera tranquila e serena, é fundamental para o reconhecimento do outro -, SEM ILUSÕES.

Ser chama nada tem de passivo. Entendo a postura de chama, como a de alguém que, na troca intrínseca às relações humanas, se mostra, dá espaço e serenamente observa.
Quietude, serenidade e observação.

O que pode parecer uma racionalidade extrema é antes uma defesa, quer da sensibilidade, quer das idealizações fantasiosas.
É que infelizmente, nem sempre o que mais gostamos, ou pensamos gostar, é o que nos faz melhor. Na verdade, durante algum tempo funciona compensando o mal que faz pelo bem que sabe. Mais tarde, torna-se numa vertigem, em que tocam os acordes da injustiça e que só nos traz dor.

Essa espera, que é afinal reconhecimento mútuo, permite reconhecer o que que efectivamente, reside na massa emocional do outro... e se o que lá está, de facto, nos completa ou não.

Entre o papel de chama e o de traça, por vezes, ainda que a custo há que escolher o papel de chama. Pagar para ver.

Como dizem os antigos o que é nosso a nós virá, sem forçar a vida ou apressar o seu compasso.
A ver vamos, como diz o cego.

No entanto, falta aqui qualquer coisa, não?!
E aquela coisa da paixão, da entrega, de nos deixarmos levar e de viver intensamente?
Não sei onde arrumar isso hoje. Terá que ficar para depois... andar no arame é tão bom... mas cair doi tanto...

Que fazer em noites de insónia?

É de facto, a pergunta que se impõe:
- Que fazer em noites de insónia?

A infinidade de respostas levar-nos-ia longe.
Mas eu hoje escolho ficar por aqui.